sexta-feira, 21 de outubro de 2011

ENTREGUE ÀS MOSCAS...

É eu sei... muito tempo sem postar! O Blog está entregue às moscas... e olha o que elas andam aprontando por aqui...!
Mas eu tenho uma justificativa: eu estava no Brasil!
Já estou em Nacala novamente, mas confesso: o coração ainda saltando na boca do quanto os dias no Brasil foram lindos e cheios de vida! Ai, chega dá vontade de chorar... quando lembro dos abraços, dos carinhos, das risadas... do afeto, do amor... Ui ui ui, como diz Mila!
Depois passo pra fazer um resuminho de como foi a viagem, mas adianto que no aeroporto encontrei com ele, o astro, o delicioso:

Tá certo que não encontrei ele assim, mas consegui reconhecer o homem que destruia 3 subway... Se meu irmão não estivesse tão educado gritaria: Eitaaaa, tu tá morrendo de fome diabo!
Pra quem nao sabe de quem eu estou falando...
Aqui vai ele...


Beijos...
Gueu

Uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O MAR ME CHAMA...

Este final de semana li um provérbio macúa muito bonito:
O barco de cada um está em seu próprio peito...
Hojé é um dia de saudade... acho que por isso estou falando tanto de mar...


Aqui as pessoas vivem em sua grande maioria dele...


De manhã, é possivel ver inúmeras pessoas mariscando... a água profunda ao longe, a margem tão grande... As pessoas parecem levitar...


Tenho aprendido muitas coisas... na sexta aprendi a cantar uma música  muito bonita... quero ensinar a todo mundo quando chegar no Brasil:

Wiwanana!
Wiwanana orera,
Onamwira!
Onamwira o vilaka (2x)
CORO: wiwanana orera onamwira o vilaka
...
Ossoma'no!
Ossoma'no orera
Onamwira!
Onamwira o vilaka. (2x)
CORO: ossoma'no orera onamwira o vilaka
Ossomiha'no!
Ossomiha'no orera,
Onamwira!
Onamwira o vilaka (2x)
CORO: ossomiha'no orera onamwira o vilaka

A musica fala sobre o quanto a união é boa, apesar das dificuldades... O quanto aprender e ensinar é bom, apesar das dificuldades...
 
Embora esteja gostando daqui, meu barco aponta para o Atlântico...
Mais que do mar, sinto saudades de minha terra...
Como diz Dan, um colega de trabalho:
VEM NI MIM SEXTA FEIRA! 




"Acendemos paixões no rastilho do próprio coração. O que amamos é sempre chuva, entre o vôo  da nuvem e a prisão do charco. Afinal, sosmo caçadores que a si mesmo azagaiam. No arremesso certeiro vai sempre um pouco de quem dispara" Mia Couto

O GATO E O ESCURO - Para crianças e adultos...

Todo mundo está careca de saber que o presente que mais gosto de ganhar é livro... E agora, desenvolvi um novo interesse - livros infantis, e tem que ser com figuras (eu falo, penso e sinto como uma criança nesse sentido, rs)!
O livro que vou partilhar com vocês é muito lindo e escrito por um moçambicano muito famoso - Mia Couto. Com vocês:

Vejam, meus filhos, o gatinho preto, sentado no cimo desta história. Pois ele nem sempre foi dessa cor. Conta a mãe dele que, antes, tinha sido amarelo, às malhas e às pintas. Todos lhe chamavam o Pintalgato.
Diz-se que ficou desta aparência, em totalidade negra, por motivo de um susto. Vou aqui contar como aconteceu essa trespassagem de claro para escuro. O caso, vos digo, não é nada claro.
Aconteceu assim: o gatinho gostava de passear-se nessa linha onde o dia faz fronteira com a noite. Faz de conta o pôr do Sol fosse um muro. Faz mais de conta ainda os pés felpudos pisassem o poente. A mãe se afligia e pedia:
- Nunca atravesse a luz para o lado de lá.
Essa era a aflição dela, que o seu menino passasse além do pôr de algum Sol. O filho dizia que sim, acenava consentindo. Mas fingia obediência. Porque o Pintalgato chegava ao poente e espreitava o lado de lá. Namoriscando o proibido, seus olhos pirilampiscavam. Certa vez, inspirou coragem e passou uma perna para o lado de lá, onde a noite se enrosca a dormir. Foi ganhando mais confiança e, de cada vez, se adentrou um bocadinho. Até que a metade completa dele já passara a fronteira, para além do limite.
Quando regressava de sua desobediência, olhou as patas dianteiras e se assustou. Estavam pretas, mais que breu. Escondeu-se num canto, mais enrolado que o pangolim. Não queria ser visto em flagrante escuridão.
Mesmo assim, no dia seguinte, ele insistiu na brincadeira. E passou mesmo todo inteiro para o lado de além da claridade. À medida que avançava seu coração tiquetaqueava. Temia o castigo. Fechou os olhos e andou assim, sobrancelhado, noite adentro. Andou, andou, atravessando a imensa noitidão. Só quando desaguou na outra margem do tempo ele ousou despersianar os olhos. Olhou o corpo e viu que já nem a si se via. Que aconteceu? Virara cego? Por que razão o mundo se embrulhava num pano preto?
Chorou. Chorou. E chorou.
Pensava que nunca mais regressaria ao seu original formato. Foi então que ouviu uma voz dizendo:
- Não chore, gatinho.
- Quem é?
- Sou eu, o escuro. Eu é que devia chorar porque olho tudo e não vejo nada.
Sim, o escuro, coitado. Que vida a dele, sempre afastado da luz!
Não era de sentir pena? Por exemplo, ele se entristecia de não enxergar os lindos olhos do bichano. Nem os seus mesmo ele distinguia, olhos pretos em corpo negro. Nada, nem a cauda nem o arco tenso das costas. Nada sobrava de sua anterior gateza. E o escuro, triste, desabou em lágrimas.
Estava-se naquele desfile de queixas quando se aproximou uma grande gata. Era mãe do gato desobediente. O gatinho Pintalgato se arredou, receoso que a mãe lhe trouxesse um castigo. Mas a mãe estava ocupada em consolar o escuro. E lhe disse:
- Pois eu dou licença a teus olhos: fiquem verdes, tão verdes que amarelos.
E os olhos do escuro de amarelaram. E se viram escorrer, enxofrinhas, duas lagriminhas amarelas em fundo preto.
O escuro ainda chorava:
- Sou feio. Não há quem goste de mim.
- Mentira, você é lindo. Tanto como os outros.
- Então porque não figuro nem no arco-íris?
- Você figura no meu arco-íris.
- Os meninos têm medo de mim. Todos têm medo do escuro.
- Os meninos não sabem que o escuro só existe é dentro de nós.
- Não entendo, Dona Gata.
- Dentro de cada um há o seu escuro. E nesse escuro só mora quem lá inventamos. Agora me entende?
- Não estou claro, Dona Gata.
- Não é você que me te medo. Somos nós que enchemos o escuro com nosso medos.
A mãe gata sorriu bondades, ronronou ternuras, esfregou carinho no corpo do escuro. E foram carícias que ela lhe dedicou, muitas e tantas que o escuro adormeceu. Quando despertou viu que as suas costas estavam das cores todas da luz.
Metade do seu corpo brilhava, arco-iriscando. Afinal?
O espanto ainda o abraçava quando escutou a voz da gata grande:
- Você quer ser meu filho?
O escuro se encolheu, ataratonto.
- Filho?
Mas ele nem chegava a ser coisa alguma, nem sequer antecoisa.
- Como posso ser seu filho se eu nem sou gato?
- E quem lhe disse que não é?
E o escuro sacudiu o corpo e sentiu a cauda, serpenteando o espaço. Esticou a perna e viu brilhar as unhas, disparadas como repentinas lâminas.
O Pintalgato até se arrepiou, vendo um irmão tão recente.
- Mas, mãe: sou irmão disso aí?
- Duvida, Pintalgatito? Pois vou-lhe provar que sou mãe dos dois. Olhe bem para os meus olhos e verá.
Pintalgato fitou o fundo dos olhos da sua mãe, como se se debruçasse num poço escuro. De rompante, quase se derrubou, lhe surgiu como que um relâmpago atravessando a noite.
Pintalgato acordou, todo estremolhado, e viu que, afinal, tudo tinha sido um sonho. Chamou pela mãe. Ela se aproximou e ele notou seus olhos, viu uma estranheza nunca antes reparada. Quando olhava o escuro, a mãe ficava com os olhos pretos. Pareciam encheram de escuro. Como se engravidassem de breu, a abarrotar de pupilas.
Ante a luz, porém, seus olhos todos se amarelavam, claros e luminosos, salvo uma estreitinha fenda preta.  Então, o gatinho Pintalgato espreitou nessa fenda escura como se vislumbrasse o abismo.
Por detrás dessa fenda o que é que ele viu?
Adivinham?
Pois ele viu um gato preto, enroscado do outro lado do mundo.
UM BEIJO!
Gueu

SOBRE O EXERCICIO DA PRIVACIDADE

Esse final de semana em Nampula tive tempo suficiente para refletir sobre algumas coisas...
Em poucos dias estarei em minha casa... sendo recebida com festas, com carinho, com abraços, com comidinhas, com escuta sensível... com cuidado. Que felicidade é estar em contato com as pessoas de forma espontânea, sem me preocupar com julgamentos ou em ter que colocar limites em demasia... Agir com naturalidade...sem ser fotografada todo momento...Como nesse que eu estava brincando...

Viver essa experiência de estar fora do país, trabalhando e morando no mesmo lugar tem sido um grande exercício e, ainda bem que consigo me regular internamente, dando-me a possibilidade de estar junto de todos e estar sozinha também... Embora isso nem sempre seja bem visto, ou não seja o ideal para os outros...

Mas não vou me delongar em um post com cara de desabafo...existem tantas coisas bonitas a serem partilhadas, mas é que hoje acordei com saudade de casa...

"A saudade é a nossa alma dizendo pra onde ela quer voltar" Rubem Alves

E meu corpo estará na Terrinha dia 8 de outubro... esse sábado...
Mais tarde partilho com vocês a coisa mais linda que vi pelos cantos de cá...pois é um pouco no escuro como me sinto hoje...

O livro infantil de Mia Couto - O gato e o escuro

Meus amigos...
Wiwanana waro orera (nossa união é boa)... mesmo de longe eu os sinto em mim...