terça-feira, 30 de agosto de 2011

SOBRE CUIDADOS...

 
Exposição sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis

Hoje o dia está sendo bastante curioso...  Logo no início da manhã houve uma exposição sobre os cuidados necessários para evitar as doenças sexualmente transmissíveis. O encontro foi descontraido e falou-se sobre tudo com muita tranquilidade...
Foi um encontro cheio de surpresas, pois não imaginava que o assunto seria tratado com tanta naturalidade, embora percebesse algumas reações de incômodo. Fiquei observando as expressões das pessoas... o riso contido, os olhares que se cruzavam, as mãos cruzadas de vergonha e até mesmo o riso orgástico que eu disse em um post anterior.  

 
Como usar o preservativo masculino
PS: aqui nao é camisinha... é camisola, hahahahahha

O legal foi ver a camisinha feminina e o cuidado que ambos devem ter em convencer o parceiro a usar o preservativo. Na apresentação com voluntários, ele fez com que homens e mulheres falassem uns para os outros da importância de usar os preservativos, simulando uma conversa... Depois, explicou como usar cada um e pediu que as pessoas fizessem o mesmo...
Preservativo feminino...
Esse momento rendeu as melhores expressões...

 
Como abrir com cuidado!



  
Como colocar a camisola!




Eu e Cris fotografando o fotógrafo - By Gilberto

Assim começou meu dia...
Durante o almoço tive uma "aula complementar" - Uma aula sobre os PRAZERES...

Mas isso é um post pra outro dia...
Beijos e cuidem-se...
Seja com camisinhas ou camisolas, uhuuuuuuu

Tanta saudades de ficar de papinho no Hara's House!


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

UM PRÍNCIPE DE MERDA


Achei importante escrever sobre o tema não apenas pela importância que ocupa na vida das mulheres, mas por considerar o ocorrido um sinal...
Todas crescemos ouvindo contos de fadas onde a mulher passa por privações e depois é resgatada por um príncipe que oferece-lhe a felicidade eterna...
Hum, ledo engano... No processo de crescimento vamos observando o quanto os relacionamentos se distanciam da literatura que embalava nossos sonhos, mas a idealização já se instalou em nós, fazendo com que sonhemos com algo tão idealizado que não conseguimos desfrutar o que é possível, havendo sempre uma falta, algo que poderia ser melhor... E nesse processo, vamos exigindo do outro algo além do possível e depositando nesses "´príncipes - sapos" toda a responsabilidade de fazernos felizes... Lógico que esse não é um processo vivenciado apenas pelas mulheres, mas como nunca passei pela condição de ser homem, nada posso falar sobre a experiência...
Bem, a verdade é que quando deixamos de creditar tanta felicidade ao outro passamos a desfrutar um amor que respeita mais o encontro... E quando penso no encontro falo do desejo genuíno de ambos em estar junto independente do papel a ser desempenhado. Não importa se é namorado, noivo, marido, companheiro, caso, peguete ou qualquer coisa... O que importa é haver desejo e predisposição dos dois para o encontro...
Uma amiga (Manu) um dia me disse que aprendeu a duras penas que as pessoas só podem dar o que tem... Eu complemento falando que não me sinto a vontade para reivindicar o que por natureza do sentimento deveria ser dado voluntariamente, e que faz parte de meu desafio avaliar se desejo o que o outro pode me dar no momento ou não, se o que é dado basta ou é pouco... e olha que eu sou naturalmente ousada... quero sempre mais! 
Essa reflexão já me acompanhava há algum tempo, mesmo que em alguns instantes eu seja surpreendida esperando que apareça alguém com quem eu viva um amor de cinema, literatura e letras de música... Em alguma medida, vivo isso, mas de uma forma tão fluida e em um formato tão novo que nem pareço ter vênus em touro...
Bem... agora que falei um pouco sobre o que penso, vou contar o ocorrido de segunda...

Cris já tinha me contado que aqui na África estamos desoladas como no Brasil... Que os principes se foram todos e que restaram apenas os sapos, mas que havia uma esperança ainda.. (ah, a esperança, algo que alimenta a fantasia do ENCONTRO)...
Sai apertada para fazer xixi, baixo a calça naquele desespero de quem vai deixar escorrer tudo pelas pernas... Quando encosto na privada sinto uma coisa batendo em minha bunda...
....
E o que era?
Era Mussa, O PRÍNCIPE DE MERDA...
Ele que não espere que eu beije a boca dele para que ele se transforme...
                         hahhahhha, Ah, como eu tô malévola!

Essa não é uma história da carochinha...mas é uma verdade danada...  

DO LADO COMPLETO DO PEITO...

               Eu tenho corações fora do peito...
E eles batem em umn tum tum de aconchego.

Horas no silêncio,
Horas no barulho...
Horas nos sorrisos.
Horas nas lágrimas...
Horas na presença,
Horas na distância...
Mas distância é algo que não existe para quem ama...

Esse post é uma continuação do anterior.Um agradecimento a uma parte das amigas!
(pois não tenho fotos com todas... sem reclamações, tá?)

Seja uma amizade construída e reconstruída no dia a dia de anos...
Ou aquela que surge no presente e tem ganhado espaço...

Que todas tenham um dia tão lindo quanto o meu!

Lulu - minha tuda!  
     Saudades do "O que você comeu?"  "E quem estava lá?" "E faz o que da vida?"
e todas as perguntas do inquérito policial...
(Senhor, que ela nunca use isso contra mim!)


Ju... Saudades do: "Amigaaaaaaaaaaa, saudadessssssssss" - com a voz esganiçada

Dai... Saudades do: "Nega, vem cá!" "E rola dessa?"rs
Bi... Saudades do: "Ui Ui UI" hihihi

Lu... Saudades do "Ai amiga, só você mesmo"...

Manu... Saudades do: "Deliiiiiiii" rs

Biu... Saudades do: "Meninaaaa, você é louca!"

 Ordi... Saudades do: "Minha Mestraaaaaaa, hahhahaha"

Gueu... Saudades do: "Confia em mim, hahhahaha"

                     E também para aquelas que estão comigo todos os dias!

                                                 Cris... sempre divertida!

                                     Sandreka... Sempre dançante

                      So... Não esquece a goiabada com creme de leite, rs



Um abraço daqueles de ficar colado... Com amor...
Gueu                                  


terça-feira, 23 de agosto de 2011

SAGRADO E PROFANO - O SORRISO!

Semana passada recebi uma mensagem no celular de uma amiga muito amada e essa mensagem tem alimentado todos os meus dias... A mensagem fala sobre o sorriso feminino e o quanto ele é uma expressão de nossa sexualidade... Para mim é mais do que isso. O sorriso é minha liberdade, minha vivacidade, minha forma de ser e estar  no mundo, de ser eu mesma... E aprendi que mesmo com todas as tentativas de repressão, não ser eu mesma custa mais que ser...
Luane
Fiquei pensando sobre a imporância que ele tem em minha vida e na vida das pessoas. Na capacidade que ele possui de iluminar os rostos e trazer leveza para os dias, da capacidade de tocar os corações, de expressar os sentimentos, de mostrar afeto, carinho, amor e acima de tudo prazer.
Fiquei refletindo sobre a época em que rir era proibido por ser considerado desrespeitoso e demoníaco, então agradeci por não ter sido dessa época e me compadeci das mulheres que enfrentaram dificuldades piores que as minhas.
Assim, fiquei pensando nas mulheres daqui. Mulheres de outra cultura, outra forma de se portar e viver sua sexualidade. E revendo algumas fotos feitas, percebi que a despeito do que eu pensava as mulheres daqui sorriem... Umas de forma mais contida, outras mais ensolaradas... Todas contanto uma historia ainda desconhecida...
Foto: Grayce
                                                                 Foto: Gilberto
Ainda não consegui desvendar o que está escondido nessa fusão de músculos se movimentando, mas creio que a atmosfera misteriosa nos conecta em um segredo não partilhadado, mas sentido e compreendido, pois nos mostra o sagrado e o profano da condição de ser mulher. Isso só me faz mais apaixonada, pois sendo mulher podemos muito - geramos a vida e o alimento, e quando digo alimento não falo apenas do leite, mas do que alimenta a alma - o amor!
 
                                                   Fotos: Grayce
Esse post é dedicado a todas as mulheres que ousaram e venceram a opressão! A todas as mulheres que foram repreendidas na infância, na adolescência ou na vida adulta porque sorriram ou expressaram suas ideias, sentimentos e sua sexualidade.
Esse post é dedicado também aos meus pais, especialmente minha mãe, por me educarem sem reprimir essa manifestação tão peculiar da minha personalidade! E também de quem herdei a capacidade de rir nas mais diversas circunstâncias. Com quem aprendi a usar o recurso do humor como uma estratégia de enfrentamento - uma forma de atravessar o Hades e retornar ao encontro com Deméter... Eu amo vocês!
Dudu e Vânia
Mamys... essa música vai para você... Eu estou bem, não precisa ficar preocupada... E eu volto!!! Fica tranquila! Te amo!!! 


E esse post também é dedicado as minhas amigas, companheiras dessa jornada... Com quem partilho o gargalhar, o silêncio, as lágrimas, os receios e todos os sentimentos que nos conectam além do espaço físico, pois nos mantém vinculadas em uma rede de amor e amizade.
Saudade de vocês em abraços apertados, olhos molhados e gritinhos histéricos, auuuuu, rs!






"O riso é um lado oculto da sexualidade feminina: ele é físico, essencial, arrebatador, revitalizante e, portanto, excitante!"
Clarissa Pinkola Estes - Mulheres que Correm com os Lobos

Ho!!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

UMA HISTÓRIA D'MAR - Para Yana e Bel


Falando com Ju e com Nalva semana passada fiquei sabendo das novidades de duas crianças que eu amo de muito amor e resolvi escrever algo para elas (sei que todas as crianças crescidas ficarão com ciúmes, mas...).
É uma historia de amor que começou faz um tempão... A Mulequinha quando nem falava direito e a vi no cinema - brincamos de chuva de pipoca, e Belzinha, quando ela ainda tava na barriga da mãe dela... Como é possível amar tanto alguém que a gente ainda nem viu?Quando eu a vi então, que felicidade maior do universo estar na hora (mesmo dormindo no plantão do hospital) que ela nasceu!
Bem, quando soube que a Muleca ficou louca com a novidade de que aqui em Nacala tem um montão de esquilo saí feito uma destrambelhada pra conseguir fazer a foto de algum. Mas como eles são espertos e rápidos! Quando me viam saiam correndo e eu ficava tão feliz que me atrapalhava mais ainda com a máquina. Não consegui fazer nenhuma foto, mas pedi pra Sandra e ela me deu essa...
 Qual seria o nome dele Mulequinha?

Fiquei imaginando a Mulequinha falando toda cheia de dengo: "Aiiiii, eu quero um", e me lembrei de todos os momentos em que estivemos juntas. De quando brincávamos e ela falava do amor que tinha pelos animais... Da época que ela queria porque queria um bode ou cabrito de presente (eu sempre me confundo) - sempre dou risada quando lembro disso.
Fiquei imaginando ela grande, gigante, com seus cabelos cacheados e com sua doçura que a torna única... Lembrei-me dela piquitita falando errado, da gente cantando musiquinhas, pintando e melando a casa toda e de toda a farinha de trigo que gastamos fazendo massinha de modelar... Dos dias em que eu acordava com chuva de beijinhos e abraços, e do pedido que vinha em seguida "Tia Gueuzinha linda, acoda pa bincá". E essas lembranças tão doces deram lugar a um gostinho salgado e meus olhos se encheram de pedacinhos do oceano! Que saudade imensa de estar com ela... Eu que nem tive como vê-la antes de vir pra África.
PS - essa é minha forma de dizer que chorei, e vocês sabem que eu choro profissionalmente, rs!


Comia o dia inteiro, depois deitava no chão!
Depois fiquei sabendo de todas as infinitas perguntas que minha "Bigodinha" fez quando soube que eu estava na terra dos baobás. Imaginei-a fazendo um inquérito policial pra Ju em meio aos engasgos de quando ela está animada demais pra saber de alguma coisa e as palavras não acompanham a agilidade dos pensamentos... Adoro ver isso!!! E então, prometi pra Ju que ia mostrar uma foto do tronco do baobá...

Os baobás são árvores sagradas, como deveria ser toda árvore...E abraçá-la é muito gostoso!
Fiquei cheia de orgulho quando soube que ela gostou do livro que dei pra mãe dela como forma de agradecer nossa amizade "Marcelino Pedregulho", e me lembrei também do dia do meu anivérsário que fui pegá-la na escola e ela me fez contar, quase sem intervalo, 8 historias do "Pequeno Nicolau"... E era assim: "Tia Gueu, vem po meu quarto contá torinha!"; "Agora essa aqui!", "Ota", "Tá demorando de beber água... Essa aqui agora"... Nossa, eu não tinha folga, tive que ligar pra Ju perguntando quando ela chegava, rsrsr. Fiquei toda murchinha quando lembrei que não estarei aí, do ladinho dela, pra acompanhar o crescimento, a troca de dentes, as palavras inventadas e as que saem errado... Como não morrer de amor e continuar vivendo louca pra saber de todas as aventuras dela?
Minha "bigodinha" irmã gêmea de Guille... Que saudade imensa de te dar um aperto!

Como pode um peixe vivo viver fora d'água fria? Como poderei viver sem a tua companhia?

E todas essas lembranças promoveram em mim o primeiro dia de banzo de minha terra... Mas vieram com umn doçura e amor tão intensos que todo o céu no fim de tarde se coloriu com as cores mais lindas. E então, eu fechei os olhos, tirei meus sapatos e senti o chão frio pra viajar até vocês... Atravessar todo o continente africano e o oceano pra fazer com que vocês sentissem o quanto eu as amo...
Tia Gueu promete ouvir muitas histórias daqui pra contar pra vocês...
Com muito e imenso amor...


"Se alguém ama uma flor da qual só exista um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para fazê-lo feliz quando as comtempla. Ele pensa "Minha flor está lá, em algum lugar..."
O Pequeno Píncipe

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

MAÇÃ DO AMOR

Semana de trabalho... Um monte de coisas pra ler sobre o lugar e sobre o projeto, mas um clima muito gostoso para trabalhar (estou adorando o convício com as meninas)
Depois do almoço sentei pra descansar, ouvir música e admirar a vista... foi quando vi dois esquilos correndo (rápido o suficiente pra não poder ser fotografado) e as sementinhas do pinheiro no chão...
De imediato lembrei de Mi que de lá de Chicago coleciona delicadezas e das meninas do Maçã... Lembrei da Mulequinha que, com certeza ia querer ter um esquilinho e de como ela gosta de enfeitar árvores de Natal ...
Senti que nada pode me afastar das pessoas que amo... nem as milhas e milhas distante!!!

RESENHA - A FESTA

                Na noite de sábado, fui para o jantar festivo da empresa – batizado por eles de RESENHA. Um dos rituais é dançar uma coreografia criada por não sei quem (a música é de Shakira – essa da Copa da África do Sul). Foi uma aula de falta de coordenação motora, enquanto eu ia pra um canto, as pessoas iam pra outro. Dançar coreografia não é a minha mesmo, nem junto... Gosto de dançar separado e sem forma, livre, como na vida! Coisa de gemêos com ascendente em sagitário, gosto de espaço!!!     
Na RESENHA (uma festa animadíssima, dessas de dançar FRICOTE) a melhor coisa é ver as pessoas daqui dançando. Meu deus do céu, parece que eles vão deslocar a cintura das pernas... Lembrei tanto de meu irmão e fiquei com vontade de aprender, mesmo que eu fique toda desconjuntada e sinta todas as células gritarem: BALZAQUIANA!!!

O BAOBÁ

Na volta, demos uma volta pela praia e fui apresentada à árvore típica da região – o embodeiro (uma das espécies de baobá). Lembrei de muita gente que gosta do Pequeno Príncipe e fiquei fazendo algumas fotos dessa árvore que tem o tronco tão grosso e a copa agora seca, tentando pegar no ar um pouco de alimento pra se nutrir.
Lembrei também do livro “Ciranda das Mulheres Sábias” (Ordi, esse livro está com você?) e do quanto somos parecidas com as árvores... Na busca profunda por buscar o alimento e na capacidade regenerativa de nos refazermos dos pequenos cortes... Senti vontade de abraçar a árvore, mas não fiz nesse dia...
                Lembrei também das pessoas que gostam de fotografar e lembrei de Calvino ao falar que “Eu gostaria de viver da forma o mais fotografável possível, ou considerar todos os momentos de minha vida fotografáveis”... E desejei isso pra mim! Assim como desejo isso para você!
                 Eis a imagem do baobá tentando abraçar a lua com seus galhos cinzas (acho que das fotos que fiz até agora, essa é que mais gosto...). Outro dia posto alguma imagem do tronco em um abraço pra lá de telúrico!

TUDO É LINDEZA, ESTRELA DE QUINTA GRANDEZA...

No sábado, ainda sem saber que dia era, acordei às 10:30 e fui no quarto de Cris e San. Conversamos e rimos muito. Eu nem parecia a mesma de ontem. Saimos pra almoçar e elas me falaram que tinha um convite de um dos colegas de trabalho para conhecer uma praia. Uma coisa me chamou atenção – as pessoas colocam apelidos em todo mundo (parece minha família). Nós somos conhecidas como “As Panteras”...
Fiquei pensando: as Panteras são 3 e a Demi Moore é  a vilã que chega por último... Não sou vilã, mas bem que queria ser a Demi, não porque ela é linda e blã, blá, blá, mas por conta do marido dela... Ô, meu pai, e esse homem era psicólogo (fico imaginando a transferência erótica que rolava...).


Então, depois de almoçar macarrão com picanha assada, nosso colega de trabalho passou no nosso hotel (Thamole – isso gera muita piadinha...) e nos levou para esse lugar...
A água é de uma transparência que dá vontade de se jogar com tudo nela, mas tomei um chá de cimento e molhei só os pés...


A NOSSA CASA É ONDE A GENTE ESTÁ, A NOSSA CASA É EM TODO LUGAR!

Tomamos um café rápido (bolinhos de arroz com carne moída). Elas me trouxeram em casa – um chalé que vou dividir com Soraya.  E em minha cama tinha isso...
Todo mundo me conhece. Lógico que nessa hora as lágrimas nem pediram permissão. Saltaram em volume (ainda discreto) em um abraço que me fez sentir acolhida e esquecer o primeiro momento. Às 19:00 daqui, elas voltaram para o trabalho porque tinham aula de inglês e eu, inquieta, não conseguia relaxar pra dormir... Resolvi arrumar tudo (eu e minha mania de arrumar as coisas quando preciso me organizar). E assim ficou meu quarto (bem parecido com meu quarto no Hara’s House):

EU VOU, EU VOU, PRA NACALA AGORA EU VOU...

Livre, ainda tinha que pegar o carro pra Nacala que fica mais ou menos a 200 km de Nampula. O motorista, um muçulmano, tratou de me falar sobre as tradições locais e durante todo o trajeto vi várias mesquitas (estão no período do Ramadã e diferente de outros locais da África, aqui não há mutilação feminina – fiquei menos apreensiva com isso, pois imaginei que essa seria uma grande dificuldade de exercitar um olhar antropológico).
A vegetação parece muito a do sertão do Brasil e miséria é miséria em qualquer canto, já cantava os Titãs. Um pôr-do-sol com uma imensa bola vermelha rasgando o céu, muito lindo... Por outro lado, na estrada, as mulheres carregando seus filhos, um feixe de lenha e roupa na cabeça e “os bonitão” dos maridos andando atrás sem levar nada... Nunca mais reclamo de ter nascido no Brasil!
Tenho certeza que Teo a essa hora deve estar rindo de mim!!! E falando: Toma Gabiru!!! 
Só pensava em uma coisa: QUERO CHEGAR LOGO, TOMAR BANHO E DORMIR...
Quem disse? Fui levada direto para o trabalho, onde fui apresentada a todo mundo que só agora sei o nome. Fizeram um adiantado do que estava acontecendo e eu pensando: “Meu Deus, eu não sei nem meu nome”... Acho que não causei uma boa primeira impressão, parecia um bicho do mato!

DANÇA GATINHO - O VISTO!

Subi pra pegar o passaporte com o visto. O “miseravi” do guardinha me enchendo de pergunta sobre o homem que estava comigo. Só me faltava essa!!! Inventei uma história e o outro que estava com ele me liberou... Enquanto o "miseravi" me apertava com perguntas, o outro queria saber se eu conhecia Rodrigo Faro.

Fiz um “Quem?” e ele me disse “Dança, gatinho”, dei risada e minha foto do visto provisório saiu com um sorriso nervoso...  Tem coisa que só acontece comigo!
Vocês devem estar assombrados com tamanha feiura... E pensando: Nossa, Grayce é louca, como divulga uma foto dessas!!! Mas eu penso em tudo. Se aqui tivesse um lugar que imprimisse a foto em uma camisa eu usaria - estratégia para afastar o mosquito da malária! Vale mais que repelente!!!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

A CONTRABANDISTA

Chegada em Nampula-Moçambique... Estresse total, só não me caguei porque não tinha merda pronta, como dizia um amigo de meu pai. A tensão pelo inquérito que rola no visto e ainda a porra da goiabada e as camadas de cereal intercaladas com roupas – já me via presa.

O mineiro, todo solícito, foi perguntar pro guardinha FDP como eu fazia pra tirar meu visto, que eu ia trabalhar na mesma empresa que ele. Pra que? Esse “homi” marcou minha cara e eu tive que fazer de conta que estava muito calma e passar as malas pelo raio x como se estivesse tudo bem, como se eu não estivesse com o rabo preso. O bruto falou: “ brasileira tem que abrir as duas malas”... Já me vi no noticiário como contrabandista de comida... Mas o que aconteceu foi tão pior quanto. Uma bruta abriu minha mala menor com tanta força que quebrou o zíper e nessa, um imenso pacote de absorvente caiu no chão. Eles ficaram sem graça e falaram “Pode fechar as duas, tudo bem”... Uffa. Tive que dar uma de MacGiver e fechar a mala toda arreganhada com a echarpe, rs. (Eu sou “PODI”, né Danni?)

PULSÃO DE VIDA OU DE MORTE?

Quando entrei no avião pensei... Será que as pessoas que morrem em acidentes aéreos recebem sinais de que vão morrer? A primeira pessoa que vi entrar no avião foi João Ubaldo Ribeiro. Segurei a tietagem pra não pedir um autógrafo (até porque já tenho um no livro “Vencecavalo e o Outro Povo”)...

A resposta veio em fração de segundos:

“Me fudi, um imortal no avião!”. Mas logo em seguida entra o mauricinho (gatinho), Padre Fabio de Melo... Pensei: “Estou segura, um homem de Deus”, mas em seguida pensei:
 “Por esse eu virava mula-sem-cabeça”... Ri sozinha e vi que não tinha salvação... Ia ter que acreditar no que meu coração dizia “vai dar tudo certo”...
Chegando em São Paulo, falei com o homem que ia pegar o mesmo vôo que eu... Pedi em clemência “Tomara que seja feio. Afinal, onde se ganha o pão não se morde a salsicha”... ELE enviou um mineiro, mas foi tudo tranquilo. Então, pegamos uma fila do capeta, porque a delegação brasileira de futebol universitário (desconhecida para mim) ia fazer conexão na África do Sul... Confesso que me senti um pouco mais segura. Deus não derrubaria esse avião.
O vôo para África do Sul foi uma coisa de cinema. Tomei o dramim antes da hora e o vôo atrasou, então, quando entrei no avião já estava grogue, caindo de sono pelos cantos...
Além disso, estava tão ansiosa que fazia xixi toda hora (ainda bem que me colocaram no corredor)... Ao meu lado se sentou Juliana, uma mulher de Maputo, que trabalha com emancipação feminina. Como eu fiquei feliz (no primeiro momento) de me sentar ao lado dela. Passou horas (das 11 de vôo) falando sem parar... Pela primeira vez em minha vida eu não era a pessoa a falar pelos cotovelos (e isso é raro).
 Depois do café, bateu um soninho e aí veio o arrependimento de estar sentada ao lado dela... A mulher roncava mais alto que minha mãe (Desculpa a exposição Mamys, mas todo mundo já sabe que você ronca profissionalmente)... Senti uma vontade de chorar e mandar parar o avião que eu queria descer, mas permaneci lá com minha incontinência urinária e resolvi ver filmes... Luciana a esta altura deve estar se perguntando o que eu comi no avião, demorei só pra fazer um suspense (pão com geleia, suco, uma arroz com pimentões e uma coisa que parecia moqueca de frango e uma sobremesa que não comi toda – dura e gelada, parecendo um bolo)...
Chegando na África do Sul, aquela correria. Setecentas e quinhentas e vinte e mil pessoas em conexão e léguas pra andar até encontrar o painel que dizia o portão que pegaríamos o vôo para Nampula. Eu, trêbada de sono, mas Paulo ficou atento, mesmo comprando todo o free shop e fumando feito uma caipora. Eu estava mais tranquila, pois sabia que ele tinha voltado de Orlando (o que não minha cabeça correspondeu à sentença – ele sabe falar inglês... Mas eu estava enganada, sabia tanto quanto eu).
 Fomos para o portão de desembarque e sinto o primeiro incômodo nasal de muitos que já nem conto... Uma nuvem densa de elementos que misturavam amônia de peido, sovaqueira e perfume (Nem Grenoille seria capaz de recriar tal odor). Contei até três, respirei pela boca e fiquei atenta para não dar bandeira... Com o nariz fino que tenho, dar uma bandeira dessas era a primeira de minhas preocupações (e de todo mundo que conhece as caretas que faço quando sinto um fedorzinho se alastrando pelo ambiente)!
O ônibus que nos levou ao avião chegou. Quando entrei senti vontade de urinar. Pensei: “Que não aconteça o desastre que aconteceu com Veríssimo no conto – O que é um peido pra quem está cagado” e segurei firme, respondendo ao mineiro com expressões monossilábicas.
Quando vi o avião pensei: “Fudeu geral, o avião é do tamanho do que levava os Mamonas Assassinas”...
        Mas logo depois veio a calmaria, porque me sentei ao lado de um missionário.  Ufffa, que alívio...!!! PS: Lu, a segunda comida foi um pudim salgado com batatas, frutas e iogurte.
                E assim, mesmo com todo o medo, cheguei ao destino quase final (Nampula – Moçambique) para o episódio que segue...