segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O SENTIMENTO LUSITANO...

"Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar...
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar."
Chico Buarque



Esses dias tenho acordado com muita saudade de todos, mas estou tranquila, faltam 19 dias para estar em casa...
Saudade... esse sentimento traduzido apenas na língua portuguesa e tão presente em meus dias...
Saudade que me faz ter água nos olhos e sentir o salgado do mar na boca...
Saudades... dessas que só passam sentindo a brisa do Atlântico olhando o mar da janela do meu quarto...
Saudades...dessas que só passam com um abraço (vários na verdade)!



Dois oceanos em mim: O Atlântico e o Índico... Um imenso e amoroso continente africano me conectando com meu Brasil e com os que amo... Ah, África! Obrigada por me conectar com meus ancestrais... Obrigada pelo acolhimento e desenvolvimento de minha intuição! Obrigada por fazer com que eu me sinta em casa... Porque a casa é onde o coração da gente bate! E como diz a música: Eu tenho corações fora do peito!

Um bom dia cheio de saudades! Um bom dia cheio de contagem regressiva...! Um bom dia carregado de abraços e de afetos...

"Pois há menos peixinho a nadar no mar do que os beijinhos que eu darei na sua boca" Vinícius de Morais

domingo, 13 de novembro de 2011

UMA ESCUTA INTERNA

Estou em dívidas e contra fatos não há argumentos... Então, vou pular a parte das justificativas e seguir ... Para mim, o mês de novembro sempre promoveu grandes inquietações, e, diferente de antes, eu não mais luto contra a necessidade de voltar-me pra dentro... Todos me conhecem, e me reconhecem, por ter uma natureza mais voltada pra fora, sempre aos risos... na verdade gargalhadas... Mas os que me conhecem também percebem o quanto sou transparente em minhas emoções e o quanto o dia mais ensolarado pode ser visto apenas como um quadro bonito e admirável quando estou mergulhada em mim mesma... Um bom dia quase sem som, um sorriso sem contrair todos os músculos da face...
Nesses dias, um convite silencioso é feito, e eu o aceito. Quem me convida é o sorrateiro, o raptor Hades (Plutão - não por acaso, situado no meu mapa no signo de Escorpião). E ele me chama para vir para o mais profundo de mim mesma... Então, pego minha romã e viro sua noiva (arquétipo da qual tenho profunda admiração - Perséphone)... Muitos podem estranhar em me ver assim, calada, nariz vermelho e lágrimas que brotam sem parar... Sinto que muitos gostariam de ter o que dizer, de amparar, de acolher, mas nesses momentos, meus amigos, o importante é estar junto, ombro a ombro. E agora, especificamente, como estamos a 18.000km de distância, o importante é ter vocês dentro de mim, vivos, embora a imaginação e o vínculo não consigam tornar cheio o abraço dado ao vento em frente ao mar... O que tem acontecido desde então? Eu virei um oráculo. São milhares de sonhos todas as noites. Estar nessa terra tem acelerado o desenvolvimento de minha intuição. Como eu agradeço por estar aqui!!! Esse é de longe o melhor dos presentes. Tenho refletido tanto sobre eles que meus dedos agora não acompanham a rapidez que meus pensamentos se processam. E, assim percebo, que é o momento de calar novamente...
Mas como isso começou? Qual sonho precipitou a abertura desse canal?
Todos sabem da profunda admiração que tenho pela força das mulheres de minha família e o quanto essa admiração marca a minha vida nessa existência - eu preciso honrar a graça de ser uma mulher dessa família.
Então, vou partilhar o quinto sonho de uma noite muito conturbada que tive:
Andava na mata com a naturalidade de quem não sabia para onde ia, mas deixava que os pés servissem de bússola. Estava descalça, cabelo solto e vestido branco de um tecido muito leve. Era fim de tarde. O dia já ia embora e a noite já dava seus primeiros sinais em forma de sons que assustam muitos, mas que eram como música para mim. Percebo sinal de fumaça e sou atraída por uma fogueira. Ao chegar, vejo minha avó, acocorada, nua, pintada com tintas naturais, colocando lenha na fogueira. Percebo em seu olhar a mesma doçura que ela carregava quando viva, mas também, a mesma profundidade quando me olhava.
- Vó, é você?
- Ainda bem que você me ouviu... Já fiz todos os sinais e ninguém me escuta (em um tom que me fez rir, mas depois ficar séria, pois minha avó não gostava de risos quando o assunto era sério)... A vida, é uma sucessão de repetições... Quem hoje é filha, amanhã é mãe, quem hoje é avó, amanhã é neta. Você precisa cuidar de sua mãe... Ela está cansada com os problemas depois da minha morte e de seu avô.  
- Entendi vó...
- Os portáis foram abertos. Fique atenta aos sinais e acredite em sua intuição. Você sabe o que estou falando!
Deu-me um beijo na testa e se despediu:
- Feliz dia das bruxas.

Despertei, olhei no relógio. 05:50 - 31 de outubro de 2011.

E assim é o preâmbulo do meu mês de novembro...

Essa foto ao lado foi feita por Licio, no Capão, quando viajamos em julho.

Ela representa uma parte do que sou...

um abraço... 1 mês e 4 dias é o tempo que nos separa do abraço...

Sinto muitas saudades de todos!

Com amor - Gueu

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

ENTREGUE ÀS MOSCAS...

É eu sei... muito tempo sem postar! O Blog está entregue às moscas... e olha o que elas andam aprontando por aqui...!
Mas eu tenho uma justificativa: eu estava no Brasil!
Já estou em Nacala novamente, mas confesso: o coração ainda saltando na boca do quanto os dias no Brasil foram lindos e cheios de vida! Ai, chega dá vontade de chorar... quando lembro dos abraços, dos carinhos, das risadas... do afeto, do amor... Ui ui ui, como diz Mila!
Depois passo pra fazer um resuminho de como foi a viagem, mas adianto que no aeroporto encontrei com ele, o astro, o delicioso:

Tá certo que não encontrei ele assim, mas consegui reconhecer o homem que destruia 3 subway... Se meu irmão não estivesse tão educado gritaria: Eitaaaa, tu tá morrendo de fome diabo!
Pra quem nao sabe de quem eu estou falando...
Aqui vai ele...


Beijos...
Gueu

Uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O MAR ME CHAMA...

Este final de semana li um provérbio macúa muito bonito:
O barco de cada um está em seu próprio peito...
Hojé é um dia de saudade... acho que por isso estou falando tanto de mar...


Aqui as pessoas vivem em sua grande maioria dele...


De manhã, é possivel ver inúmeras pessoas mariscando... a água profunda ao longe, a margem tão grande... As pessoas parecem levitar...


Tenho aprendido muitas coisas... na sexta aprendi a cantar uma música  muito bonita... quero ensinar a todo mundo quando chegar no Brasil:

Wiwanana!
Wiwanana orera,
Onamwira!
Onamwira o vilaka (2x)
CORO: wiwanana orera onamwira o vilaka
...
Ossoma'no!
Ossoma'no orera
Onamwira!
Onamwira o vilaka. (2x)
CORO: ossoma'no orera onamwira o vilaka
Ossomiha'no!
Ossomiha'no orera,
Onamwira!
Onamwira o vilaka (2x)
CORO: ossomiha'no orera onamwira o vilaka

A musica fala sobre o quanto a união é boa, apesar das dificuldades... O quanto aprender e ensinar é bom, apesar das dificuldades...
 
Embora esteja gostando daqui, meu barco aponta para o Atlântico...
Mais que do mar, sinto saudades de minha terra...
Como diz Dan, um colega de trabalho:
VEM NI MIM SEXTA FEIRA! 




"Acendemos paixões no rastilho do próprio coração. O que amamos é sempre chuva, entre o vôo  da nuvem e a prisão do charco. Afinal, sosmo caçadores que a si mesmo azagaiam. No arremesso certeiro vai sempre um pouco de quem dispara" Mia Couto

O GATO E O ESCURO - Para crianças e adultos...

Todo mundo está careca de saber que o presente que mais gosto de ganhar é livro... E agora, desenvolvi um novo interesse - livros infantis, e tem que ser com figuras (eu falo, penso e sinto como uma criança nesse sentido, rs)!
O livro que vou partilhar com vocês é muito lindo e escrito por um moçambicano muito famoso - Mia Couto. Com vocês:

Vejam, meus filhos, o gatinho preto, sentado no cimo desta história. Pois ele nem sempre foi dessa cor. Conta a mãe dele que, antes, tinha sido amarelo, às malhas e às pintas. Todos lhe chamavam o Pintalgato.
Diz-se que ficou desta aparência, em totalidade negra, por motivo de um susto. Vou aqui contar como aconteceu essa trespassagem de claro para escuro. O caso, vos digo, não é nada claro.
Aconteceu assim: o gatinho gostava de passear-se nessa linha onde o dia faz fronteira com a noite. Faz de conta o pôr do Sol fosse um muro. Faz mais de conta ainda os pés felpudos pisassem o poente. A mãe se afligia e pedia:
- Nunca atravesse a luz para o lado de lá.
Essa era a aflição dela, que o seu menino passasse além do pôr de algum Sol. O filho dizia que sim, acenava consentindo. Mas fingia obediência. Porque o Pintalgato chegava ao poente e espreitava o lado de lá. Namoriscando o proibido, seus olhos pirilampiscavam. Certa vez, inspirou coragem e passou uma perna para o lado de lá, onde a noite se enrosca a dormir. Foi ganhando mais confiança e, de cada vez, se adentrou um bocadinho. Até que a metade completa dele já passara a fronteira, para além do limite.
Quando regressava de sua desobediência, olhou as patas dianteiras e se assustou. Estavam pretas, mais que breu. Escondeu-se num canto, mais enrolado que o pangolim. Não queria ser visto em flagrante escuridão.
Mesmo assim, no dia seguinte, ele insistiu na brincadeira. E passou mesmo todo inteiro para o lado de além da claridade. À medida que avançava seu coração tiquetaqueava. Temia o castigo. Fechou os olhos e andou assim, sobrancelhado, noite adentro. Andou, andou, atravessando a imensa noitidão. Só quando desaguou na outra margem do tempo ele ousou despersianar os olhos. Olhou o corpo e viu que já nem a si se via. Que aconteceu? Virara cego? Por que razão o mundo se embrulhava num pano preto?
Chorou. Chorou. E chorou.
Pensava que nunca mais regressaria ao seu original formato. Foi então que ouviu uma voz dizendo:
- Não chore, gatinho.
- Quem é?
- Sou eu, o escuro. Eu é que devia chorar porque olho tudo e não vejo nada.
Sim, o escuro, coitado. Que vida a dele, sempre afastado da luz!
Não era de sentir pena? Por exemplo, ele se entristecia de não enxergar os lindos olhos do bichano. Nem os seus mesmo ele distinguia, olhos pretos em corpo negro. Nada, nem a cauda nem o arco tenso das costas. Nada sobrava de sua anterior gateza. E o escuro, triste, desabou em lágrimas.
Estava-se naquele desfile de queixas quando se aproximou uma grande gata. Era mãe do gato desobediente. O gatinho Pintalgato se arredou, receoso que a mãe lhe trouxesse um castigo. Mas a mãe estava ocupada em consolar o escuro. E lhe disse:
- Pois eu dou licença a teus olhos: fiquem verdes, tão verdes que amarelos.
E os olhos do escuro de amarelaram. E se viram escorrer, enxofrinhas, duas lagriminhas amarelas em fundo preto.
O escuro ainda chorava:
- Sou feio. Não há quem goste de mim.
- Mentira, você é lindo. Tanto como os outros.
- Então porque não figuro nem no arco-íris?
- Você figura no meu arco-íris.
- Os meninos têm medo de mim. Todos têm medo do escuro.
- Os meninos não sabem que o escuro só existe é dentro de nós.
- Não entendo, Dona Gata.
- Dentro de cada um há o seu escuro. E nesse escuro só mora quem lá inventamos. Agora me entende?
- Não estou claro, Dona Gata.
- Não é você que me te medo. Somos nós que enchemos o escuro com nosso medos.
A mãe gata sorriu bondades, ronronou ternuras, esfregou carinho no corpo do escuro. E foram carícias que ela lhe dedicou, muitas e tantas que o escuro adormeceu. Quando despertou viu que as suas costas estavam das cores todas da luz.
Metade do seu corpo brilhava, arco-iriscando. Afinal?
O espanto ainda o abraçava quando escutou a voz da gata grande:
- Você quer ser meu filho?
O escuro se encolheu, ataratonto.
- Filho?
Mas ele nem chegava a ser coisa alguma, nem sequer antecoisa.
- Como posso ser seu filho se eu nem sou gato?
- E quem lhe disse que não é?
E o escuro sacudiu o corpo e sentiu a cauda, serpenteando o espaço. Esticou a perna e viu brilhar as unhas, disparadas como repentinas lâminas.
O Pintalgato até se arrepiou, vendo um irmão tão recente.
- Mas, mãe: sou irmão disso aí?
- Duvida, Pintalgatito? Pois vou-lhe provar que sou mãe dos dois. Olhe bem para os meus olhos e verá.
Pintalgato fitou o fundo dos olhos da sua mãe, como se se debruçasse num poço escuro. De rompante, quase se derrubou, lhe surgiu como que um relâmpago atravessando a noite.
Pintalgato acordou, todo estremolhado, e viu que, afinal, tudo tinha sido um sonho. Chamou pela mãe. Ela se aproximou e ele notou seus olhos, viu uma estranheza nunca antes reparada. Quando olhava o escuro, a mãe ficava com os olhos pretos. Pareciam encheram de escuro. Como se engravidassem de breu, a abarrotar de pupilas.
Ante a luz, porém, seus olhos todos se amarelavam, claros e luminosos, salvo uma estreitinha fenda preta.  Então, o gatinho Pintalgato espreitou nessa fenda escura como se vislumbrasse o abismo.
Por detrás dessa fenda o que é que ele viu?
Adivinham?
Pois ele viu um gato preto, enroscado do outro lado do mundo.
UM BEIJO!
Gueu

SOBRE O EXERCICIO DA PRIVACIDADE

Esse final de semana em Nampula tive tempo suficiente para refletir sobre algumas coisas...
Em poucos dias estarei em minha casa... sendo recebida com festas, com carinho, com abraços, com comidinhas, com escuta sensível... com cuidado. Que felicidade é estar em contato com as pessoas de forma espontânea, sem me preocupar com julgamentos ou em ter que colocar limites em demasia... Agir com naturalidade...sem ser fotografada todo momento...Como nesse que eu estava brincando...

Viver essa experiência de estar fora do país, trabalhando e morando no mesmo lugar tem sido um grande exercício e, ainda bem que consigo me regular internamente, dando-me a possibilidade de estar junto de todos e estar sozinha também... Embora isso nem sempre seja bem visto, ou não seja o ideal para os outros...

Mas não vou me delongar em um post com cara de desabafo...existem tantas coisas bonitas a serem partilhadas, mas é que hoje acordei com saudade de casa...

"A saudade é a nossa alma dizendo pra onde ela quer voltar" Rubem Alves

E meu corpo estará na Terrinha dia 8 de outubro... esse sábado...
Mais tarde partilho com vocês a coisa mais linda que vi pelos cantos de cá...pois é um pouco no escuro como me sinto hoje...

O livro infantil de Mia Couto - O gato e o escuro

Meus amigos...
Wiwanana waro orera (nossa união é boa)... mesmo de longe eu os sinto em mim...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

SEX IN THE CITY - NAMPULA

Agora que as coisas ficaram mais tranquilas, vou dividir com vocês o que fiz nesses tempos...Estou virando moçambicana... Eh páh, rs
O momento que vou relatar agora foi o final de semana que passei em Nampula. Nunca dei tanto valor a me expressar com liberdade, que prazer... sem ninguem pra vigiar e perguntar pra onde iriamos... Estava mais feliz que pinto no lixo!
... Bebida, comida, risadas altas... Sem contar aquele clima que só as mulheres conhecem... Todo mundo quer ser Samantha Jones, hahhahaha

Depois fomos pro hotel e tiramos o nosso soninho de beleza, rs... Aquela demora pra todo mundo ficar pronta...

Entao... depois das borralheiras virarem princesas fomos para um pub daqueles de filme da época do apartheid...




Depois fomos procurar um lugar pra dançar, mas não deu muito certo, porque eu estava a passar mal... Fiquei tão mal que fui para o hospital e fiz o pico pra ver se era malária, mas ainda bem que não era...Nao falei com ninguem pra evitar que alguem mobilizasse o Governo Brasileiro pra me resgatar daqui!

Amanhã estou indo pra Nampula novamente, dessa vez com uma amiga moçambicana, Lina... Eu acho que no nome dela falta um D...Não acham?

terça-feira, 27 de setembro de 2011

MORATÓRIA

     Devo, não nego. Pago quando puder!
   É assim que começo o post de hoje depois de receber um puxão de orelhas de Dani: "Hora de atualizar o blog, gata!".
   Muitas coisas aconteceram desde o último post, quando fiz a homensagem para meu pai. Programei vários temas para postar e, até mesmo, postar situações antigas, mas cadê que o tempo deu? A vida no tronco e no lerê lerê dessa vida de Isaura está um corre-corre imenso e nos intervalos, tenho buscado me divertir...
   Tá, tá, tá, tá... e não poderia postar nesse tempo? Genteimmmm, estou na África, vocês acham que a internet, luz e água funciona todo dia? Já cansei de contar as carreiras que peguei no escuro e os banhos de cuia, rs... Mas estou contente por estar aqui!
  
   Sinto-me em casa, embora conte os dias para estar ai... Chego dia 8 de outubro!!!
   Então, relaxem e pintem!!!

   A pedidos algumas mandalas que pintei quando o tempo ainda permitia, rs...Lu, depois me diga o que achou!
O Sol que há em mim!

O Mar que há em mim!

Mergulhar!


Vibrante!
      E agora, um processo de grande despreendimento - cortar a mandala... Depois, um  processo de revolução e criatividade - brincar com as mandalas e ver o que elas podem formar... Eu amei...

Um ser estranho: galxe (forma mutante do galo que é peixe)
Eu sei que o galxe vai render várias interpretações ... rs, mas tudo bem!
Beija eu!

Moçambicana!
Experimentem!
E só pra lembrar: DEVO, NÃO NEGO. PAGO QUANDO PUDER!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

REGALO PARA MI PAPA

Hoje é aniversário de uma pessoa que eu amo muito... Tá certo que eu amo muitas pessoas, mas essa é bem especial...

Passei o dia lembrando de vários momentos que passamos juntos, das histórias dele e de como ele me ajudou a ser quem eu sou hoje... E, por estar tão longe , decidi fazer uma homenagem... (Eu sei que ele não vai ler, porque não lê nem bula de remédio, mas resolvi partilhar com vocês...)

Com vocês o chamoso, o elegante, o macaco peludo, o Tony Ramos da Bahia - Meu Pai: Dudu.


Meu pai nasceu em Irará e foi tão bem alimentado na barriga de minha avó Eliza que nasceu com 6 quilos. Não preciso nem dizer que minha avó gostava de comer e que estar grávida era a desculpa necessária para que ela devorasse uma galinha, uma jaca e uma jarra de suco como quem toma o chá das cinco...
Desde pequeno, Josaphá (com PH, ele faz questão de dizer) era danado, e, ao contrário de mim, não gostava de estudar. Meu avô e padrinho, João, por ter alguma influência no lugar conseguia convencer as pessoas a deixarem que ele estudasse na escola, mas no mesmo ano, lá estava ele explodindo caixas d'agua e sendo expulso novamente.
Ele não gostava muito que minha avó contasse essas historias, pois quando eu aprontava na escola e ele vinha conversar comigo eu falava "Não vou dedurar ninguem, você gostava quando lhe deduravam?". Era dificil meu pai ter argumentos com a gente... Todo mundo sabia de sua deliquencia juvenil (Sua sorte foi se casar com minha mãe).
Um dia, ele azucrinou tanto minha avó que ela quebrou um prato na cabeça dele... Ele saiu chorando e ela também... Ele disse: "Tá vendo, até você sabe que doeu"...E minha avó, no ápice de sua sensibilidade disse entre lágrimas: "Era o último prato do enxoval!".
Eu poderia passar horas aqui contando das coisas que meu pai aprontou na vida, mas acho que não fica legal pra uma "mocinha" ficar falando com tanto orgulho sobre as atitudes delinquentes do pai (um dia quero ter filhos e é melhor que eles nao saibam que a mãe e o avô aprontavam na escola... nem vou falar sobre meu irmão mais novo, porque se faço isso pensarão que não é uma familia, mas uma formação de quadrilha...)

Preciso confessar que eu sempre nutri um desejo de que meu pai se orgulhasse de mim, por isso eu ficava imitando ele, por isso eu queria ser um menino e não uma menina, por isso eu arrancava a cabeça de todas as bonecas que ele me dava e só queria brincar com os brinquedos de meus irmãos... Senti algo próximo, sem que ele me falasse nada, na minha formatura, quando tão emocionado mal conseguia andar... Tá certo que ele queria que eu fosse advogada, mas acho que nossa relação ficou melhor depois que eu saí da minha perspectiva e passei a entender mais os movimentos dele, sua forma de expressar suas ideias e sentimentos... E isso não veio apenas com a reflexão e desenvolvimento da empatia, mas das pauladas do curso de Psicologia.

Mas vamos mudar de assunto, senão fica parecendo terapia (rs). Vou falar sobre uma época que eu guardo com muito amor... A época em que eu era criança, ele me chamava de minha princesa e me acordava quando chegava do trabalho pra brincar comigo... (minha mãe pirava porque ele sacudia a gente e depois ela que tinha que colocar pra dormir).

Lembro de quando ele chegava do trabalho, eu tirava seus sapatos, deitava-me no chão na mesma posição que ele e, mesmo sem saber falar direto falava: "Vamo papai, titi Dallas"...

Lembro do dia que soltei todos os passarinhos dele e fui dormir às seis da tarde com medo dele me bater (ele só me acordou e disse que não tinha porquê ter medo, mas que o que eu tinha feito era feio e ele tinha perdido dinheiro... eu ainda tive a ousadia de dizer que era feio prender animal... mas acho que eu estava com sorte nesse dia, rs)...

Lembro de como ele ficava feliz quando íamos passar final de semana na fazenda de meu avô Joao e ele observava a gente correndo pelo quintal feliz da vida...

Lembro de quando ele saia de casa, eu perguntava pra onde ele ia e pra provocar ciumes ele falava "Vou ver minha outra filha"...E eu falava com as mãos nas cadeiras "Pode ir, mas não volte. Nem eu nem minha mãe lhe queremos mais..." (mesmo sem ele ter outra filha)...

Lembro do Dia dos Pais na escola e de como eu ficava procurando ele na platéia pra poder cantar mais alto...

Lembro dos meus aniversários e de como eu acordava no desejo do abraço de Feliz Aniversário...

Lembro de quando ele me chamava de Maria Quitéria quando eu questionava as pessoas e de como falava com certo tom de orgulho "Como se parece com Papai" ...

E lembro também do único episodio triste de minha infancia - a morte de meu avô (o pai dele). Fecho os olhos e consigo lembrar perfeitamente como seu abraço era molhado de tanto que choramos... Desejei tanto ajudar, era tudo tão confuso pra mim ... Eu senti tanta saudade de meu avô e dele também... Só depois, como adulta, vim compreender porque ele se afastou de mim (e dos meninos) e nao brincava mais com a gente... A morte foi uma experiencia devastadora pra gente!

Mas vamos falar da vida, pois é ela que eu celebro agora de longe...

Sabe painho, já passamos por varias coisas... Nao precisei estar tão longe pra valorizar sua companhia e expressar meu amor... Os último acontecimentos me fizeram perceber o quanto eu devo aproveitar sua companhia, mesmo que as vezes a gente se enrosque, rs... As vezes falo grosso com o senhor pra ver se você passa a se cuidar mais (que velinho mais teimoso!)... As vezes discutimos por sermos os dois muito defensores de nossas ideias... Hoje compreendo que muito de nossos problemas aconteceram por sermos tão iguais e ao mesmo tempo tão diferentes...

Tá certo que a mistura sua e de minha mãe beirou a perfeição, mas foi de você que herdei as brincadeiras, o senso de humor e o chorador raso (mesmo que você faça isso escondido)...E te agradeço por isso, pois isso é muito do que sou...

Hoje sinto uma saudade muito engraçada... Sinto saudade de você me perguntando a mesma coisa mil vezes, repetindo a mesma piada sem graça mil vezes, perguntando "Heim Gueu" mil vezes, chamando para almoçar às 11:15 e ficando agoniado se ninguem quer comer tão cedo, perguntando qual a merenda que tem e até cafangando pela casa se deixo um copinho de nada fora do lugar ou se saio pela noite "Meu Deus do céu Vania, isso é hora dessa menina estar na rua"... Pai, quando você não é chato, até que você é engraçadinho, rs... te amo!

"Eu enfrentaria o mundo com uma mão se você segurasse a outra" Caio Fernando Abreu

Te amo!!! Felicidades hoje e em todos os hojes!!!
É cuide-se, por favor... Não quero puxar suas orelhas quando chegar no Brasil!
De quem te ama muito...
Sua filha...

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

SER MULHER TEM DESSAS COISAS... (PARTE 2)

Pensei que depois de dormir essa instabilidade menstrual iria passar... Mas que nada! É uma sensibilidade que já me fez oscilar do mais escandaloso riso ao choro mais soluçado...
Ser mulher tem dessas coisas... Todo mês esse estica e puxa de sentimentos...Uma vontade de comer uma barra de chocolate branco com sorvete...hummmm... E essa vontade incontrolável de pegar uma garrafa de vinho, ligar Nina Simone a todo volume e ficar chorando até secar?

E essa lua cheia que desponta no céu pela noite iluminando as árvores secas que buscam vida...Aiii, uma vontade de sair caminhando sem destino. Mergulhar no mar e lá passar a noite... Mas quem pode com o frio? E se tiver tubarão? Baleia tem! Já viram, eu não vi...
Nossa, estou escrevendo o que vem na cabeça... Lembrando de Lu rangendo os dentes quando está Totalmente Pirada e Maluca (TPM) e falando: Hoje eu mato um!



Então... como a cabeça funciona a mil nesse período... Olhei fotos, ouvi músicas e encontrei esse texto abaixo... Acho que ilustra bem o que estou sentindo. Ainda mais depois do sonho que tive... E de ter ido dormir ouvindo Piaf e lembrando de minha Vó Cilú.


Uma mulher que se abre

Quando uma mulher se abre o que há de mais solitário se alarga. Espantalhos de dor se mostram e se decompõem. Flocos de agonia se aproximam. Crescem perdas. Voam conchas.
Uma mulher que se abre é uma mulher mergulhada em anáguas e sendas. Saltando sobre a luz. Deram-lhe lanças e um falso espelho para enganar as feridas.
Quebrada, ela conduz corações ao túmulo. Esperando que uma nova morte traga-lhe nova grinalda e novo véu.
Em surdina, uma mulher que se abre deseja o esquecimento e a maternidade. Quer parir, dormir, trepar. Morte à memória!
– O mundo não corrompe quem habita os subterrâneos.
Disse-lhe um livro com o sol no ventre.
O extravio de uma mulher que se abre é um deslumbre. Uma significação doce e mórbida. Possui a beleza e está carregado de hóstias e sepulturas.
Moças e rapazes, caindo em abismos, sustentam essa mulher aberta. Beijam-lhe o útero exposto.
Afogado em seus cabelos, ela se arqueia na esperança que o amor, quando novamente acontecer, não traga algemas.
Uma mulher que se abre é pedra, cratera, rio, relíquia.
Traz na língua o perdão e suas chamas.


Marize Castro*


Cabanel - O Nascimento da Vênus


 MInha avó já dizia que no período da menstruação a mulher precisa ter mais cuidado! Pois é... Eu nem sou mais uma mulher que se abre. SOU UMA MULHER ABERTA!

Mas tudo bem... Ser mulher tem dessas coisas...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

SER MULHER TEM DESSAS COISAS...

Todo mundo que me conhece sabe o quanto sou apaixonada por dois temas: mulheres e crianças.
A paixão é tão grande pelos dois que mal consigo dizer quem é mais amado...

Hoje terminei de ver um documentário lindo - Babies. Eu via parecendo uma boba, rindo e me emocionando com as expressões desses pequenos que encantam todo mundo, independente de sexo ou etnia...Uma vontade que deu de sair viajando coletando essas imagens... Saber o que é ser mãe para elas enquanto o desejo de sentir minha barriga crescendo com alguém dentro não pode ser realizado...

De vez em quando o relogio biológico grita: é hora, é hora, é hora, é hora, é hora, mas a idealização,a racionalização e o JUÍZO falam: fique quietinha, agora não! rs



Mas vamos falar de outro tema agora, já que falar sobre maternidade me deixa mais emocionada que de costume e com o tempo de um mês e 4 dias longe de casa, o colo e sorriso de minha mãe fazem uma falta sem fim... A maternidade cede lugar ao papel de ser filha...

Fechando os olhos posso ouvi-la falando: Gueu, o que você quer comer? Vamos ver um filme? Vem pra cá! Oxe, vou ficar no banheiro com você fazendo o que? Acorda minha princesa,vamos bater perna na rua, rs... Que saudade mais doce!

Sinto-me ainda muito pequena em seu colo com seus carinhos, embora já seja uma "burra velha", como diz meu pai...

...Pausa pra dar uma choradinha e olhar o mar na noite escura...

Retorno para acalmar minha mãe, que a esse momento deve estar preocupada se estou bem ou não... Calma Mamys, está tudo bem! São as oscilações naturais de uma geminiana e da menstruação que se aproxima, rs. Ser mulher tem dessas coisas...

PS: desisti de falar sobre o que eu queria (a mulher moçambicana)...  Reconheci a necessidade de ficar caladinha, queitinha, sentindo-a dentro de mim...



Vontade de voltar a ser desse tamanico, quando até o que eu queria comer era adivinhado...


Logo eu, que não aguentava ver o Hulk se transformando que tirava a roupa também...



É assim, desde pequena inquieta demais...
Bem que meu avô dizia... Eita Dudu, essa menina vai te dar é trabalho!!!

Depois eu prometo contar minhas peripécias: Clube da Luluzinha, A Noite em Nampula e algumas ideias para o Blog...

Um beijo
Gueu

terça-feira, 30 de agosto de 2011

SOBRE CUIDADOS...

 
Exposição sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis

Hoje o dia está sendo bastante curioso...  Logo no início da manhã houve uma exposição sobre os cuidados necessários para evitar as doenças sexualmente transmissíveis. O encontro foi descontraido e falou-se sobre tudo com muita tranquilidade...
Foi um encontro cheio de surpresas, pois não imaginava que o assunto seria tratado com tanta naturalidade, embora percebesse algumas reações de incômodo. Fiquei observando as expressões das pessoas... o riso contido, os olhares que se cruzavam, as mãos cruzadas de vergonha e até mesmo o riso orgástico que eu disse em um post anterior.  

 
Como usar o preservativo masculino
PS: aqui nao é camisinha... é camisola, hahahahahha

O legal foi ver a camisinha feminina e o cuidado que ambos devem ter em convencer o parceiro a usar o preservativo. Na apresentação com voluntários, ele fez com que homens e mulheres falassem uns para os outros da importância de usar os preservativos, simulando uma conversa... Depois, explicou como usar cada um e pediu que as pessoas fizessem o mesmo...
Preservativo feminino...
Esse momento rendeu as melhores expressões...

 
Como abrir com cuidado!



  
Como colocar a camisola!




Eu e Cris fotografando o fotógrafo - By Gilberto

Assim começou meu dia...
Durante o almoço tive uma "aula complementar" - Uma aula sobre os PRAZERES...

Mas isso é um post pra outro dia...
Beijos e cuidem-se...
Seja com camisinhas ou camisolas, uhuuuuuuu

Tanta saudades de ficar de papinho no Hara's House!