segunda-feira, 12 de setembro de 2011

REGALO PARA MI PAPA

Hoje é aniversário de uma pessoa que eu amo muito... Tá certo que eu amo muitas pessoas, mas essa é bem especial...

Passei o dia lembrando de vários momentos que passamos juntos, das histórias dele e de como ele me ajudou a ser quem eu sou hoje... E, por estar tão longe , decidi fazer uma homenagem... (Eu sei que ele não vai ler, porque não lê nem bula de remédio, mas resolvi partilhar com vocês...)

Com vocês o chamoso, o elegante, o macaco peludo, o Tony Ramos da Bahia - Meu Pai: Dudu.


Meu pai nasceu em Irará e foi tão bem alimentado na barriga de minha avó Eliza que nasceu com 6 quilos. Não preciso nem dizer que minha avó gostava de comer e que estar grávida era a desculpa necessária para que ela devorasse uma galinha, uma jaca e uma jarra de suco como quem toma o chá das cinco...
Desde pequeno, Josaphá (com PH, ele faz questão de dizer) era danado, e, ao contrário de mim, não gostava de estudar. Meu avô e padrinho, João, por ter alguma influência no lugar conseguia convencer as pessoas a deixarem que ele estudasse na escola, mas no mesmo ano, lá estava ele explodindo caixas d'agua e sendo expulso novamente.
Ele não gostava muito que minha avó contasse essas historias, pois quando eu aprontava na escola e ele vinha conversar comigo eu falava "Não vou dedurar ninguem, você gostava quando lhe deduravam?". Era dificil meu pai ter argumentos com a gente... Todo mundo sabia de sua deliquencia juvenil (Sua sorte foi se casar com minha mãe).
Um dia, ele azucrinou tanto minha avó que ela quebrou um prato na cabeça dele... Ele saiu chorando e ela também... Ele disse: "Tá vendo, até você sabe que doeu"...E minha avó, no ápice de sua sensibilidade disse entre lágrimas: "Era o último prato do enxoval!".
Eu poderia passar horas aqui contando das coisas que meu pai aprontou na vida, mas acho que não fica legal pra uma "mocinha" ficar falando com tanto orgulho sobre as atitudes delinquentes do pai (um dia quero ter filhos e é melhor que eles nao saibam que a mãe e o avô aprontavam na escola... nem vou falar sobre meu irmão mais novo, porque se faço isso pensarão que não é uma familia, mas uma formação de quadrilha...)

Preciso confessar que eu sempre nutri um desejo de que meu pai se orgulhasse de mim, por isso eu ficava imitando ele, por isso eu queria ser um menino e não uma menina, por isso eu arrancava a cabeça de todas as bonecas que ele me dava e só queria brincar com os brinquedos de meus irmãos... Senti algo próximo, sem que ele me falasse nada, na minha formatura, quando tão emocionado mal conseguia andar... Tá certo que ele queria que eu fosse advogada, mas acho que nossa relação ficou melhor depois que eu saí da minha perspectiva e passei a entender mais os movimentos dele, sua forma de expressar suas ideias e sentimentos... E isso não veio apenas com a reflexão e desenvolvimento da empatia, mas das pauladas do curso de Psicologia.

Mas vamos mudar de assunto, senão fica parecendo terapia (rs). Vou falar sobre uma época que eu guardo com muito amor... A época em que eu era criança, ele me chamava de minha princesa e me acordava quando chegava do trabalho pra brincar comigo... (minha mãe pirava porque ele sacudia a gente e depois ela que tinha que colocar pra dormir).

Lembro de quando ele chegava do trabalho, eu tirava seus sapatos, deitava-me no chão na mesma posição que ele e, mesmo sem saber falar direto falava: "Vamo papai, titi Dallas"...

Lembro do dia que soltei todos os passarinhos dele e fui dormir às seis da tarde com medo dele me bater (ele só me acordou e disse que não tinha porquê ter medo, mas que o que eu tinha feito era feio e ele tinha perdido dinheiro... eu ainda tive a ousadia de dizer que era feio prender animal... mas acho que eu estava com sorte nesse dia, rs)...

Lembro de como ele ficava feliz quando íamos passar final de semana na fazenda de meu avô Joao e ele observava a gente correndo pelo quintal feliz da vida...

Lembro de quando ele saia de casa, eu perguntava pra onde ele ia e pra provocar ciumes ele falava "Vou ver minha outra filha"...E eu falava com as mãos nas cadeiras "Pode ir, mas não volte. Nem eu nem minha mãe lhe queremos mais..." (mesmo sem ele ter outra filha)...

Lembro do Dia dos Pais na escola e de como eu ficava procurando ele na platéia pra poder cantar mais alto...

Lembro dos meus aniversários e de como eu acordava no desejo do abraço de Feliz Aniversário...

Lembro de quando ele me chamava de Maria Quitéria quando eu questionava as pessoas e de como falava com certo tom de orgulho "Como se parece com Papai" ...

E lembro também do único episodio triste de minha infancia - a morte de meu avô (o pai dele). Fecho os olhos e consigo lembrar perfeitamente como seu abraço era molhado de tanto que choramos... Desejei tanto ajudar, era tudo tão confuso pra mim ... Eu senti tanta saudade de meu avô e dele também... Só depois, como adulta, vim compreender porque ele se afastou de mim (e dos meninos) e nao brincava mais com a gente... A morte foi uma experiencia devastadora pra gente!

Mas vamos falar da vida, pois é ela que eu celebro agora de longe...

Sabe painho, já passamos por varias coisas... Nao precisei estar tão longe pra valorizar sua companhia e expressar meu amor... Os último acontecimentos me fizeram perceber o quanto eu devo aproveitar sua companhia, mesmo que as vezes a gente se enrosque, rs... As vezes falo grosso com o senhor pra ver se você passa a se cuidar mais (que velinho mais teimoso!)... As vezes discutimos por sermos os dois muito defensores de nossas ideias... Hoje compreendo que muito de nossos problemas aconteceram por sermos tão iguais e ao mesmo tempo tão diferentes...

Tá certo que a mistura sua e de minha mãe beirou a perfeição, mas foi de você que herdei as brincadeiras, o senso de humor e o chorador raso (mesmo que você faça isso escondido)...E te agradeço por isso, pois isso é muito do que sou...

Hoje sinto uma saudade muito engraçada... Sinto saudade de você me perguntando a mesma coisa mil vezes, repetindo a mesma piada sem graça mil vezes, perguntando "Heim Gueu" mil vezes, chamando para almoçar às 11:15 e ficando agoniado se ninguem quer comer tão cedo, perguntando qual a merenda que tem e até cafangando pela casa se deixo um copinho de nada fora do lugar ou se saio pela noite "Meu Deus do céu Vania, isso é hora dessa menina estar na rua"... Pai, quando você não é chato, até que você é engraçadinho, rs... te amo!

"Eu enfrentaria o mundo com uma mão se você segurasse a outra" Caio Fernando Abreu

Te amo!!! Felicidades hoje e em todos os hojes!!!
É cuide-se, por favor... Não quero puxar suas orelhas quando chegar no Brasil!
De quem te ama muito...
Sua filha...

3 comentários:

  1. Chorei, chorei horrores. Provavelmente serei demitida,mas valeu a pena. Parabéns, seu Dudu! Acho que faltou o episódio das coxinhas (que eu amo!) Amo você, amiga. Beijo, Dani B.

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  2. Ai Danita,

    E voce pensa que eu escrevi isso dando risada? Chorei muito também... e imagino que suas lagrimas empáticas falam do seu amor e saudade do seu pai também...

    PS: vou escrever sobre as coxinhas depois, hahahhahah

    Da vaquinha que também te ama,
    Gueu

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  3. Ai Gueu, que delícia ter vc na minha vida...Que saudade dos seus, dos meus e de vc!!! Quanta saudade de vc, minha amiga!!!! Te amuuuuuu demais!!!! Lú Diz.

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